terça-feira, 18 de outubro de 2011

Prelúdio

Ouvia buzinas por todos os lados. Distantes, virando a esquina, zona sul, leste, norte, morte do silêncio. Desceu molhar a garganta, procurava álcool, achou água da torneira, ainda não cortada, sem peneira e muito menos gelada.
Mas continuava a ouvir buzinas potentes, insolentes em plena madrugada de segunda, não na segunda já que por hora era terça. Não houvera jogo, eleições, na boate bacanal, homenagem, deve ser um funeral, assim pensou. O atormentava aquela mosca, zunindo e dançando feito uma moça, seduzindo o bom humor, roubando-lhe a paz, a concentração também como quem diz: você não cheira bem. Bem sabia, mas quem o cheira além do inseto? E os faróis ainda reverberando o seu teto? Que melodia terrível, ele tremulava com a garganta já há muito arranhada, não cabia letra nem nada. Curioso, sob o teto rebocado, azul cor de veneno mais algum escarro sobre seu travesseiro que nunca fora tão ameno. Repentinamente as buzinas cessaram, os sinos da catedral próxima anunciaram: eram duas da manhã. Ele pensava, o céu deve ser melhor que isso, agora um eco fortíssimo daqueles nítidos até a última parede refletir. Tantos prédios altos, baixos, médios até o seu quarto, ele já um tanto farto amaldiçoou tais sinos. No quarto que não era seu, esse fardo ele sofreu. Ter tuberculose já deve ser agonizante e os últimos minutos que ele viveu, morreu ouvindo o montante dos sons atordoantes do funeral que era o seu.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"Crimes suaves"

meditações confusas
sobre ti profetizo
e sobre vários eles
tantos, pesos ainda não mortos

pelo pudor da efusão
dos alívios não assistidos
bebo meu doce vermute
anti-miséria d'alma

consciente da chacina
mato-os, ou seja, os escrevo
aprendo a matar
como há muito tempo já fui
desde que confundia
vir, viver, crer e Finalizar


desde que encontrei lá
o asco, ermo, vulnerável

eu, violável
doloso, e com um cosmo de simpatia

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Sobre a melancolia

Inferindo ao vento
Culpas d'outrora
Que, do mesmo, não existem
Todavia insistem

Eis o melancólico, vil
Fraco à felicidade
Satisfeito ao gozo dos olhos
Divertido pela compaixão