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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
-ssemos
imagina se pudéssemos escrever sobre as coisas simples?
sobre o passarinho que desenha sua rota no ar?
as pequenas flores dos canteiros?
imagina se tivéssemos que ter escrito "eles passarão, eu passarinho"? quintana é o gênio, nós estamos nos afundando...
se escrevêssemos sobre flor seria da rafflesia arnoldii
se fosse de pássaros seria de qualquer espécie no mínimo estranha.
se escrevêssemos não para constituir versos ou rimas.
se nos identificássemos. se nos encontrássemos.
e misturássemos os rascunhos deixados de lado por aparentarem o ridículo intrínseco da alma.
criássemos nova literatura;
saíssemos nos deleitar com toda a estranhice
que é a calmaria
a calmaria é o estranho do mundo
imagina se bebêssemos
todas as safras de vinho
e morrêssemos sorrindo
se comungássemos o nosso corpo
tão batido e conhecido por nós
imagina se ultrapassássemos essa instância
essa distância
esses versos
essa vida
e escrevêssemos o que imaginássemos
...
triunfaríamos...
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
ando com roupas
cobertas de vaidade
vulgar Afrodite
nisto, sou mulher
nos bons dias
gostaria de não vestir
o olhar de alguém
nisto, sou vulgar
então, quando penso
finjo criar condição
de dar forma à escrita
nisto, sou aqui
resultado de um
barulho nas costas
nos braços, em torno
d'um intrínseco e
descompreensivo,
fiasco.
cobertas de vaidade
vulgar Afrodite
nisto, sou mulher
nos bons dias
gostaria de não vestir
o olhar de alguém
nisto, sou vulgar
então, quando penso
finjo criar condição
de dar forma à escrita
nisto, sou aqui
resultado de um
barulho nas costas
nos braços, em torno
d'um intrínseco e
descompreensivo,
fiasco.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Abri uma cerveja hoje. Bem sozinha em casa, com companhias em perspectiva mas, a opção mais sensata é a de estar sozinha. Então, abro aquela cerveja há tempos mofada da geladeira. Cerveja comprada para se dividir, não pra se embriagar, nem pra viajar. Se existe categorias divididas por quantidade de cerveja, essa estaria incluída na de apenas relaxar. Dar sono. Mas não pude dividir, não pude compartilhar o pão. Sem querer, embriaguei-me. Também não com gosto de loucura, não foi disso. Chorar sozinha também é questão de loucura, se pensarmos bem. Mas não foi. Eu vario das ideias, como diz minha mãe Neste fatídico dia, a cerveja estava com gosto de saudade. Arrebatadora e cruel. Assim, pude esboçar uns versos, que foram esses;
a lucidez no copo
polarizada
o amor em cheque
inimigo
o estouro das pálpebras
salgado
a consciência louca
algazarra
o verbo ambíguo
apaziguar
a ebriedade mórbida
cerveja
ele não sabia
mas ele tinha que saber
Depois dessa, eu preciso adormecer...
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Aspas
Olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo.
Raduan Nassar, Lavoura Arcaica p.7
Raduan Nassar, Lavoura Arcaica p.7
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Aspas
Muros
Sem piedade e sem pudor, sem dó e sem cuidado
à minha volta espessos muros tão altos quem teceu?
E eis-me agora aqui na sorte a que fui dado,
em mais não penso: não me sai da ideia o que aconteceu.
Lá fora há tanto que fazer - tanto ruído!
E, se estes muros construíram, porque não dei por tal?
Não ouvi de pedreiro nem voz nem ruído
E sem saber fiquei fechado, sem vista e sem portal.
(Konstantinos Kaváfis)
haikais
I
natureza lenta
no leve sono diário
de vida desperta
II
céu retangular
sala de espera abafada
jardim trepadeira
III
flores invisíveis
virtuais e coloridas
borboletas mortas
IV
cana-de-açúcar
incendiária do corpo
doce desperdício
V
células humanas
há décadas recicladas
como todo lixo
VI
raiz principal
de prática não pensada
sobre um poste elétrico
*inspirado no filme waking life, de richard linklater
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Primavera do fim dos ventos
Do fim dos tempos
Profecia cantada como mantra
De setembro ao calor
Às flores, doce vozear
Organismos puros
Tocados de sensações
Herdeiros do inverno
Corredores no ar
Humanos e as ideias
Correntes, vertentes
Fluentes do verbo
Polinizar
Sejam as ideias assim
O lado másculo,
Da formosa e imaculada,
À terra fecundar
Profecia cantada como mantra
De setembro ao calor
Às flores, doce vozear
Organismos puros
Tocados de sensações
Herdeiros do inverno
Corredores no ar
Humanos e as ideias
Correntes, vertentes
Fluentes do verbo
Polinizar
Sejam as ideias assim
O lado másculo,
Da formosa e imaculada,
À terra fecundar
domingo, 2 de setembro de 2012
Sem título
Eis que o vinho nacional
Verte como resposta:
Escreves para matar,
Lês para morrer
Dá-me, música, a calma
Que hoje eu preciso de mim
Visto que a alma talha
E a mente finda
Mas, da enganação
Não me objecto
Posto que continuo a escrever
Com o medo coeso
E avanço assim
Com desejo arredio
Aos dias vindouros
Meu devir infecto
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
conto desfeito
não é a cama
que jaz desfeita
é o conto
que me escreves
longe ser o franco
autor, o feroz
amor, bagatela
de atenção
é o teu desespero
exibicionista
que cava sulcos
de cólera em mim
não haverão mais
contos, gana,
eu e a conhecida
doença da mudez
então, cantarei odes
ao esquecimento
e no mais alto tom
à liberdade
domingo, 29 de julho de 2012
dependência
(título)
espuma douradamero sibilar
pé da escada
quieto revelar
(digestão)
pronta admissão
remorso à vista
calma infusão
revés realista
fim
Crônica de portão
Os ventos sacodem os portões. Ora quente, ora frio na esquina, todas as casas tem portão. São os tempos atuais, em sua maioria, que reclamam mais de um. A qualquer hora haverá, então, um fechado, outros abertos. Vários entreabertos. Quando pensas em sair, certamente espera a calmaria da rua. A ventura deriva dessa expectativa. Às duas, na madrugada, garanto uma ligação. Martelo sob o banco não é suficiente.
- Aguardo-te na esquina, duas ruas acima do canal.
Ao meu lacaio informo. Ei-lo, então, com a sua sirene, o barulho o qual me foge o terror. A falsa cura do tumor que cresce no homem, segurança, o medo. Os portões reverberam o vacilo do som, a mistura com os sonhos da ancestral tradição. Foi aqui, embora possam crer em um blefe, que pude presenciar a dança dos portões. Verdadeira ópera, deveras tensa. Ao me deparar com a cena, senti algo correr na veia. Adrenalina responsável pelo seu abrir e fechar. Deslizas como cisne sobre um espelho d'água. Prepara as brechas para as despedidas quentes. Sinto, pelos companheiros aspirantes a cosmopolitas. Sonhadores com vilas de muros baixos, ou nem isso. Encontrei um motivo pulsante de observar a rua. Atentar algo de vida no mais insípido paralelepípedo. A ansiedade do "abre-alas", no ocaso, na madrugada. O lado de fora do portão.
- Já estou dentro.
Notifico minha própria consciência. Num desenfreado encerrar de possibilidades. A espera, do outro lado, de algo surpreendente que não acontece. Me despeço da vida, do olhar virgem a essa rua. Olhar pra cima e ver o ninho de gato o qual dependo para escrever essa crônica. Essa esquina, essa novidade, que recompensa quem não sabe mais o que fazer.
terça-feira, 10 de julho de 2012
crepúsculo da calçada
suponho que
sob a marquise
dormem
automóveis
homens e carros
imóveis
chão e cada
sem casas
loja de departamento
com a sombra
da garantia
à languidez
presente
e compartilhada
comigo que,
sob um teto,
descanso
segunda-feira, 2 de julho de 2012
hodiernus I
os rios estão distantes
e ainda oscilantes
cambaleamos
sem travessia
sem retórica
sem agrado
nossa maioria
não admirado
e habituado
sem romaria
vida de humano
de dor fulgurante
quão abundante
engano
sábado, 30 de junho de 2012
A Alberto Caeiro
Diante do barulho confuso
dessa Lisboa de pedra
a canção desse café Luso
escorre pela sua janela
De fora, o observo
com seu ar descansado
a voz que canta o verbo
parece tua, sobre teu fado
Então, faz-me uma serenata
como a que lhe venho dar?
doce e fresca como a mata
que irá se inundar
Será a fonte tuas papilas
que de sensíveis não se conterão
perdendo no caminho da saliva
esse pedaço de paixão
E, por fim, se desmancha
nessa onda de calor
causada pela dança
dessa serenata de amor
domingo, 10 de junho de 2012
Íncubo
me beijam
todos os espíritos malignos,
que me libertam,
os gênios ruins
(me chutam os que
me amam e
me geraram)
o gene ruim
continuam a me beijar
em alma
os piores silêncios
da mais cruel
loucura
(deles)
rechaço-me inteira
todos os espíritos malignos,
que me libertam,
os gênios ruins
(me chutam os que
me amam e
me geraram)
o gene ruim
continuam a me beijar
em alma
os piores silêncios
da mais cruel
loucura
(deles)
rechaço-me inteira
quarta-feira, 6 de junho de 2012
colo
eu melhoro quando
vigorosa a chuva cai
e os bocais cedem à força
como se viessem a mim
os respingos...
brilho de madrepérola
a lua apavora
corrói meus demônios
destaca mutilações
aguça o pesar
os brilhos...
fulgor da lapidação
isso, um violento arrancar
da minha, há muito, solitude
e substituindo meu suicídio
pelo seu colo
o pão...
preciosa gema, comunhão
quarta-feira, 23 de maio de 2012
domingo, 13 de maio de 2012
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Ela ficou para trás
é tirol, ao meio dia
recosta-se sobre o assento:
a vista o seu regaço
o vermelho dura quarenta
longos segundos
eu a observo, mas parto
ela fica pra trás
por mais infinitos
dois segundos de cansaço
ela fica paulatina
conduzindo cabisbaixa
cismada a jogar-se de seu terraço
recosta-se sobre o assento:
a vista o seu regaço
o vermelho dura quarenta
longos segundos
eu a observo, mas parto
ela fica pra trás
por mais infinitos
dois segundos de cansaço
ela fica paulatina
conduzindo cabisbaixa
cismada a jogar-se de seu terraço
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Gás Nobre
eu, no limiar
de maiores deleites
e dos piores temores
também estou lá
como quem sobrenada
sob a superfície
sendo meu lençol
o espelho d'água
anseio impelir-me ao fundo
e captar do escuro
o qual faço parte
meu arbítrio para o mundo
de maiores deleites
e dos piores temores
também estou lá
como quem sobrenada
sob a superfície
sendo meu lençol
o espelho d'água
anseio impelir-me ao fundo
e captar do escuro
o qual faço parte
meu arbítrio para o mundo
sexta-feira, 4 de maio de 2012
debaixo d'água
sutil e terno
como tentáculos
do polvo que,
quando me dissera
o quão parecido
era consigo
quanto aos 3 corações,
eu pude entender
claramente, por fim
sua metáfora
comigo
como tentáculos
do polvo que,
quando me dissera
o quão parecido
era consigo
quanto aos 3 corações,
eu pude entender
claramente, por fim
sua metáfora
comigo
Paradigma do sufoco
adormeço lacrimejando
antes fosse de bocejar
com olhos fundos
despertei, convivi
e, a cada encontro
com meu reflexo
de soslaio ou por inteiro
eu estava bela
como há tempos não reparara
escovei os dentes chorando
num movimento melancólico
a escova, a pasta e,
sobretudo os dentes,
cantaram-me:
"- Mas por que estás assim?
com seu alforje de mágoas
tão carregado, se teu luto
já devia ter passado?"
com os equipamentos cantantes
em seus suportes, pasta e escova
seguros de suas utilidades
dei-me conta que era
meu único estigma
o desamparo
perante mim mesma
Freud errou na previsão
meu luto não passou
agora já não choro
mas não confio
que tal intervalo
dure mais que esse
ou talvez esse
estalo ou esse
verso
antes fosse de bocejar
com olhos fundos
despertei, convivi
e, a cada encontro
com meu reflexo
de soslaio ou por inteiro
eu estava bela
como há tempos não reparara
escovei os dentes chorando
num movimento melancólico
a escova, a pasta e,
sobretudo os dentes,
cantaram-me:
"- Mas por que estás assim?
com seu alforje de mágoas
tão carregado, se teu luto
já devia ter passado?"
com os equipamentos cantantes
em seus suportes, pasta e escova
seguros de suas utilidades
dei-me conta que era
meu único estigma
o desamparo
perante mim mesma
Freud errou na previsão
meu luto não passou
agora já não choro
mas não confio
que tal intervalo
dure mais que esse
ou talvez esse
estalo ou esse
verso
terça-feira, 27 de março de 2012
segunda-feira, 26 de março de 2012
Com carinho, sua
meu
bem,não posso falar
das minhas loucuras
que pensei em machucá-lo
só para ver-te lento e cabisbaixo
que esse é meu torpe fetiche:
nos dificultar o amor
pois tristemente
bem me faz
você não
estar
bem
domingo, 25 de março de 2012
Eu não posso comigo
ouço Tchaikovsky repetidamente
e me dói suas valsas
pras flores, pros cisnes, pouco importa
perfura minha cabeça
- não é dor, pobre ignorante
o corpo está são e repousado
lamento não conseguir
diferenciar dor de tristeza
tristeza não causa dor
causa explosão
e sensibilidade comigo
acima de tudo, comigo
destarte, sou culpado
e a culpa é sempre castigada
por quem mais,
nessa teia labiríntica da vida
eu me compadeceria
senão a mim?
sou da pior espécie
de ser humano vivente
sinto-me pena
não de leveza, mas de fracasso
não por não poder
e sim por não querer
quinta-feira, 22 de março de 2012
Dez e tez da noite
o sabor do vinho que traguei
foi de ar umedecido
pela expectativa
do que me era devido
sendo privada
assim, descarada
a zerada medida
comecei e findei
(coitada
interrompida
papila
nada gustativa)
quarta-feira, 7 de março de 2012
Subvivência defensiva
não morrer seria
consequência exclusiva
de não escolher
calcar a praga notívaga
que rodeia seu bidê
bater em falso o pé
no gélido ladrilho
para distraí-la
na escapatória, o rastilho
daquelas patas ligeiras
(ante o suicídio
eu fico com sono)
consequência exclusiva
de não escolher
calcar a praga notívaga
que rodeia seu bidê
bater em falso o pé
no gélido ladrilho
para distraí-la
na escapatória, o rastilho
daquelas patas ligeiras
(ante o suicídio
eu fico com sono)
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
2 a.m.
o sino das 2 a.m
soa sempre mais
forte, ecoa mais
tempo, ofende tanto
silêncio, quanto mais
eu
fala a insônia por ser
preenchida, e sem
solitude, com tantas
paredes, maltrata
a mente
o sino das duas uma
ou anti-júbilo
ou pró-caos
é o sino que, aqui
fugindo, ali
abafando, eu
escuto
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