há a dor pra se sentir
há lua cheia
que intercede aqui
graças a deus
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
domingo, 20 de janeiro de 2013
Manhã - Mia Couto
Manhã (Mia Couto)
Estou
e num breve instante
sinto tudo
sinto-me tudo
Deito-me no meu corpo
e despeço-se de mim
para me encontrar
no próximo olhar
Ausento-me da morte
não quero nada
eu sou tudo
respiro-me até à exaustão
Nada me alimenta
porque sou feito de todas as coisas
e adormeço onde tombam a luz e a poeira
A vida (ensinaram-me assim)
deve ser bebida
quando os lábios já estiverem mortos
Educadamente mortos
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
sobre o que merece brinde
à marina dal'maz
manifestou-se a ansiedade
manifestou-se a ansiedade
finalmente, ela agradece
como a cura de um mal
a fuga de um cárcere
e cada qual assim
a engrenagem funcionou, ela berra
travando por vezes
mas viva por fim
poderá ainda interceder
mas por amizade, ela declara
como aquilo que não morre
porque a ideia não finda
se vier a padecer ainda
é alguém menor, ela admite
sabe que a bateria do tempo
é lânguida, mas não falha
dilacerante escrita
permanecendo, ela estranha
mas é a ausência das asas
que dessa vez repousa
liberdade sempre foi seu forte
que ela odeia, ela entende
mas autorizou a raiva
dela passar, dele o matar
Nota de um arrependido
Imagina que não há
Que interceda, algum deus,
Capaz de amenizar
Nem doce vermute
Tampouco alguém que lute
Pelo ódio no pensar
No guardanapo
2009
Presença que inibe
Olhar que estremece
Estranha sensação:
Mal estar prazeroso
Quando respira
Rouba-me o ar
Quando pensa
Leva-me a razão
Ódio, afeição, o que for
De você só quero
Uma centelha do ar
Para permanecer aqui
Ou uma canção
Que rompa o silêncio
Dessa eterna trajetória
De inversão de planos:
O psicológico é irreal
...e me esmaga com toneladas de acordes.
Presença que inibe
Olhar que estremece
Estranha sensação:
Mal estar prazeroso
Quando respira
Rouba-me o ar
Quando pensa
Leva-me a razão
Ódio, afeição, o que for
De você só quero
Uma centelha do ar
Para permanecer aqui
Ou uma canção
Que rompa o silêncio
Dessa eterna trajetória
De inversão de planos:
O psicológico é irreal
...e me esmaga com toneladas de acordes.
teoria do caos
eu forço crises
tenho saudade da tristeza
quero desastres
ao redor de mim
conflitos
imagino teatro
em terrenos baldios
o visceral humano
exposto a toda prova
que nessa (merda) vida
tudo é a mesma coisa
ninguém promove paz
sem cultivar inimigos
eu tou em cima do muro
jogando cascas
sabão
pedras
pras pessoas caírem
e enxerguem o mundo do chão
igual patamar
rastejando, cegamente
implorando por algo
que venha do céu
ou do inferno
que ninguém conhece
não tem forma
só teme
eu forço crises
mas tanto faz
pra quem tá no olho do furacão
qualquer vaca é grão de areia
mas homens com raiva
são o fim do mundo
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
last nite
alter ou alguma outra
definição que, às 4a.m.
sempre posso ouvir
-chore, sim,
mas chore pois os olhos
não precisam suportar
o deserto das almas,
do mundo
a umidade não carrega mágoa
como dizem
o que tu alivias
definição que, às 4a.m.
sempre posso ouvir
-chore, sim,
mas chore pois os olhos
não precisam suportar
o deserto das almas,
do mundo
a umidade não carrega mágoa
como dizem
o que tu alivias
a cidade me aconselha
-que chores
ao ouvir o passaredo
na sua alvorada insone
acordando o sol
enquanto sonham
e que não evites
escutar o solene som
do teu próprio
choro
o oráculo ao lado diz
-ame a sua solidão
grande amigo,
sinto muito
mas não posso, pois,
no momento, ouço a cidade
então só amo,
a minha canção
domingo, 6 de janeiro de 2013
O Sétimo Selo, 1957, Ingmar Bergman
"- Eu vivo agora em um mundo de fantasmas, um prisioneiro em meus sonhos.
- Ainda assim, você não quer morrer.
- Sim, eu quero.
- O que você está esperando?
- Conhecimento.
- Você quer uma garantia.
- Chame do que você quiser.
- É tão difícil conceber Deus com os sensos de uma pessoa? Por que ele tem de se esconder numa neblina de vagas promessas e milagres invisíveis? Como iremos acreditar nos que acreditam quando não acreditamos em nós mesmos? O que será de nós que queremos acreditar, mas não podemos? E quanto àqueles que não podem ou não irão acreditar? Porque não posso matar Deus dentro de mim?
Por que ele vai vivendo em um sofrido, humilhado jeito? Eu quero tirá-lo do meu coração, mas ele ainda continua em uma realidade assustadora que eu não posso me livrar. Está me ouvindo?
- Estou te ouvindo.
- Eu quero conhecimento. Não crença. Não suposições. Mas, conhecimento.
Eu quero que Deus ponha sua mão, mostre seu rosto, fale comigo.
- Mas ele é mudo.
- Eu choro para ele no escuro, mas parece não ter ninguém lá.
- Talvez não tenha ninguém lá.
- Então a vida é um terror sem sentido. Nenhum homem pode viver com a Morte e saber que tudo é nada.
- A maioria das pessoas não pensam nem na morte ou no nada.
- Até que eles chegam no final da vida e vêem a escuridão.
- Ah, esse dia.
- Eu percebo.
- Devemos fazer do nosso medo um ídolo e chamá-lo de Deus.
- Você não é fácil."
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