quarta-feira, 26 de março de 2014

impressões laterais

I
sentamo-nos
em sequência estica
perna que o mar
invejaria

II
eu espreito
(visto o comprimento
visto o aperto)

III
resquício na nuca
te curvas
olho fundo na pele
pele de gente nova
nova, nua em sulcos
eu nunca hesitante
e tu todo
eunuco

IV
mas ao primeiro sinal
(já é quase dia
no voo, no todo)
chega-se ao final

dias lusos - dias de dom

caderninho presenteado, eis: à espera diante de Dom João IV, erro os números romanos, mas os concerto. (roma ainda não aparece). o fado ouvido alto durante a espera, durante o trajeto, 5 músicas se repetiram em 4 dias. "embora digam que é feia, cá pra mim é mais linda" canta a fadista (não a fada, apesar de ser brilhante) sobre a aldeia de só-deus-sabe-onde. sinto-me em casa. sinto-me? não, mas essa melancolia me é familiar, ao passo de que em cada passo vejo fontes que não são. nem o calçamento. as conversas convergem para ouvidos alheios, as feições eu as guardo todas. agora há sede e penso no abandono das obrigações e eu ainda estou diante de Dom João IV e distante de casa. mas esse dom fez bem à casa e a mim.
cosmopolitismo: café português, pastelaria suíça, lvso central; eis o latim. (roma ainda não aparece) latim mãe pedante: século vinte e um. aglutino de certa forma essa conjunção aditiva por hábito. vintium. parece nome de remédio de doido. aglutino pensamentos por preguiça, eu já não penso agora. essas aglutinações me são totalmente convenientes - estou só. mal posso crer em tamanha solidão. "mas está tudo tão mudado que não vi em nenhum lado as janelas que tinham tabuinhas." amália que era a mulher de verdade. o ônibus anda.
rua estefânia - epifania total. avenida da liberdade: os homens atentos, as mulheres riem (do que? (sim, faz um belo dia)).  da natureza do homem cosmopolita: bank of china. indiferença dos bichos que voam, pombos gordos (haja pão). há japão também, mas a china cá está como daninha. e árabes. e belos negros de luanda. solidão masculina se expande, corre, infiltra. solidão masculina é a mais bela das solidões. locutor tenta trazê-los à reta final com o desafio de abraços e beijinhos. suados. da excitação com a variedade (a beleza que chega a dar esperança: a beleza salvará o mundo, diz todô e dostô). da variedade corpórea - muitos beijinhos, querida (o locutor continua) - nas estátuas, na banheira de um hotel parque. submersos em uma água quente e os dedos mindinhos fritos dentro de botas, calcanhares feridos. os dias lusos, a solidão dos homens. a concentração e a vocação de cão guia dos homens do sexo masculino e o devaneio eterno das mulheres que, quando guiadas, flutuam. quando só, parecem só mais uma personagem do sofrido fado: belas, tristes e comuns em portugal.

domingo, 9 de março de 2014

termos

os termos que guardei
pra escrever um poema
perderam-se enquanto
do fazer fiz um pranto
d'uma página inteira

não mais
(é mentira)

é instinto
eu lembro os valdevinos
mas às custas de mãe
que guarda bituca e anel
pra provar que de alarido
é que se bota termo
no papel