segunda-feira, 28 de julho de 2014

festina lente

dias gloriosos
 atravessando o rio corumbá
atropelando seriemas
entre a névoa que escondia
os grandes montes de cupim que eu via

era junho, tempo canceriano
a plêiade no céu
o fôlego do vento dispersando a poeira barrenta

o cão a se coçar 
o canto do bicudo carcará

sono como faísca
o barro, o repolho, o cerrado
reabilita

quarta-feira, 23 de julho de 2014

belo, oásis, deserto. a nina rizzi

no teu livro ao me ver
ri-se teu poema

descendo por tal rua
tu, noturna
estava só, blusa de malha
vinha há horas sem banho,
sendo outra - de saia plissê
desviando dos rasantes de morcegos desnorteados
do mijo e dos miados dos tantos gatos

na memória, teu olho baixas
numa toalha servida de café/almoço/janta encardida da mesa

[via-se, enquanto isso
(enquanto eu)
aberto,
a duração do deserto]

caminha,
e tateia os poucos degraus

três ruas acima do canal

diz-me também o teu poema
enquanto fala de você
a casa é a mesma, as paredes na avenida jaguarari de urban arts
a caixa alta que deixamos para depois

[vi-me,
a ter com você
sem saber das pessoas (verbais) mais, caminho, tateio
os olhos, sou eu quem os baixo
nas letras, sou eu de sobejo]

em tempo:
disseste que pareço de godard
anna karina
mas já disseste te amo ao baldo, nina?
não, talvez nunca o dirá

terça-feira, 1 de julho de 2014

tepidez

vide tudo isso,
corpo recôndito,
o que se agiganta
ante a vocação de ser:
a calma do delírio

no teto, a alabarda
resto da fluorescência
d'uma luz apagada

golpeia
um rasgo morno

a salvo
durmo