quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Semanário

1.
ele vocaliza
em improvável descanso
o anu no nim

2.
regra do trabalho
não há teia sem o toque
também o descanso

3.
no poste elétrico 
câmera de segurança
novo galho verde 

4.
o medo adulto 
não silencia as crianças 
a chuva é trégua 

5.
pássaro viúvo 
sabe que ainda vai cantar
não fica sozinho 

6.
domesticar cães
é ilusão. ainda uivam
em coro selvagem

7.
na beira da praia
roupa, óculos e galho
o urubu carrega

A janela

a janela do escritório do lugar que vou chegando devagar há anos. a janela que se fez limpa, que foi limpa, abre-se para uma claridade limpa e clara e olhar pela janela toda aberta é coisa rara mas tão prazerosa, tão perigosa agora sem as telas. a janela descansa a vista que pesa musculosa, muito rijos estes músculos, os únicos desse corpo. e são musculosíssimos estes olhos já não querem descansar olhando através da janela limpa por onde entra a claridade do resto do sol ou das estrelas que brilham em formato antigo e que não saberemos jamais se é estrela ou máquina de homem.

Não acredito

não acredito que vou escrever para você
para te pedir justiça ao Esquecido
quanto desperdício ter essa máquina 
mas não serei pontual, isso eu me recuso 
não temos compromisso canino qualquer
não tenho interesse em catalogar novas espécies
talvez a gente pudesse conversar 
não sobre a linguagem, sobre as trevas
e sobre as pessoas que sentem vergonha