quinta-feira, 14 de abril de 2022

Diadorim

Diadorim é o meu amigo 
mas ele aperta meu peito 
com seu efeito
mesmo assim eu o cumprimento
bom dia, Diadorim,
vamos lá 
desculpe a violência 
logo seremos inteiros

domingo, 3 de abril de 2022

Escala 10:5.000.000

1.
uma criança anda com os pés na terra
pés tortos com um osso faltando 
o osso que não faz falta
corre a dois braços abertos 
vestida com fraldas e sorriso desdentado
no início dos anos 90, no interior do Pará

dizem que sou eu, que não tinha aquele osso
que corria para os braços de Rose
não há provas a não ser a palavra 
e uma fotografia já danificada 

2.
um dia esses pés desentortaram 
e caminharam por dezenas de quilômetros 
na capital chilena e se encheram de bolhas
como quando chegava do trabalho ao meio dia
na melhor cidade do Oeste
e, mesmo com calçados, queimavam-se
com o calor daqueles dias

3. 
um dia ensinaram aos braços 
como não se mostrarem grossos, tatuados e nus 
isso foi com o cerrado em época de seca 
e ainda se sente na boca o gosto do barro
e do céu sem nuvens 

4.
o corpo retirado do barro 
hoje vive num banheiro do Pitimbu
não se engane que aqui não faz parte de Natal
talvez a Natal só restem os cabelos cortados 
que vão ao lixo
os cabelos que caem 
que vão ao ralo
a cor amarelada do gesto involuntário do sol

5.
com naturalidade, a maior parte de mim
o tórax, as coxas e a cabeça 
pertencerão ao que chamarei 
por um novo nome ainda desconhecido 
surgido de um baralho de tarô
elucubrações dos astros 
ou de lugar nenhum 

ali onde deitarei não mais as lágrimas sem gosto
mas os meus documentos 
enterrarei novamente este corpo