sábado, 20 de junho de 2020

reinventaram a linha do equador
e todos os meridianos foram deformados
pois há paredes infiltradas a qualquer hora

e a pensão dos vírus
tem este cheiro frio de cá

parece-me que os dias no trianon voltaram
aqueles de quando um bigode acumulava cinzas e delírios
quando também se lia bukowski até a madrugada achando o máximo
e espiava a rua vazia pela janela da cozinha
enquanto a primeira das mulheres murmurava seu rosário

reinventaram os detalhes:
a farmacinha do banheiro único
a clarabóia furada por onde escorre um fio de vento congelante
o tapete antiaderente
(os batons cintilantes, grampos dourados e a embalagem laranja de minâncora)

este cheiro frio
não é de cá:
veio migrando 
de roupas velhas e vícios acumulados
até esta linhagem que inventa teu nome mais longo

a geografia é afetiva
não mais que as marcas do um rosto que se lembra
sem plenitude do ângulo, sem olfato

oxímetro quebrado

há, então, que se pichar as linhas,
afiando suas pontas
e expulsar este odor do ausente,
borrifando para cima
balas de um sul quente

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