quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Carranca

sustentada pela quilha de um navio etrusco
que irrompe no mar Tirreno
uma carranca carrega esperanças 

no destino, não deixa de falar muito 
com os cachorros como se eles entendessem

e entendem
perguntas muito complexas sobre a comida do dia
e de que maneira isso pode ser dividido para que todos
sobrevivam ao tempo da bonança 

checa os retrovisores mesmo sem conduzir o barco
olha tudo o que deixou para trás:
aquele continente pendurado 

chora escondida com tamanha careta no espelho
vê os tártaros se acumulando e as pálpebras inchadas 
tem noção do ridículo e mesmo assim 

chora

no banheiro

pega uma tesourinha de cortar unhas
que existe de enfeite já que as unhas se vão de outra forma 
algumas na pele que coça, outras no tecido que engancha, 
estas nos dentes tortos, 
ainda há as que se cansam e simplesmente
caem

covardemente, faz um pequeno corte na epiderme
com destreza metódica e o resto das unhas, vai abrindo
cutucando 
coçando
sentindo 
até que o vermelho surja dias depois 

talhada na madeira podre dos que jamais quiseram nascer,
a carranca segue espantando maledicências

reza o ato de contrição diante da luz vermelha de uma capela 
aquela que abre antes da fábrica


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