quinta-feira, 29 de abril de 2021

poema ruim para Ferlinghetti

não dá para acompanhar todos os lançamentos músico-lítero-cinematográficos
ainda que estas sejam as coisas mais importantes da vida depois de acordar
porque as coxas do tempo se atrofiam a saber 
dos atrasos no trabalho
dos sonhos com o trabalho
do trânsito para o trabalho
do nó nas tripas pago ao banco
da colher de doce depois do almoço que aplaca 
o cansaço intermitente pela distimia não diagnosticada por um médico
mas por um burocrata do cartório que escreve com a sua máquina de escrever BRASILEIRA e da letra tosca dos recursos humanos que completa a sentença PROFESSORA 
não dá para acompanhar a raiva de uma poesia que me assalta e me rouba os cabelos
mas as mãos estão sempre tão ocupadas
que não dá ainda mais para erguê-las
como rendição ou charme 
de jogar esta mecha desidratada presa suja
que entope os ralos que eu mesma limpo com o nojo de manusear algo morto
tão morto
que não dá para não querer
vomitar
uma palavra que se salve deste mundo 


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