Olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo.
Raduan Nassar, Lavoura Arcaica p.7
terça-feira, 16 de outubro de 2012
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Aspas
Muros
Sem piedade e sem pudor, sem dó e sem cuidado
à minha volta espessos muros tão altos quem teceu?
E eis-me agora aqui na sorte a que fui dado,
em mais não penso: não me sai da ideia o que aconteceu.
Lá fora há tanto que fazer - tanto ruído!
E, se estes muros construíram, porque não dei por tal?
Não ouvi de pedreiro nem voz nem ruído
E sem saber fiquei fechado, sem vista e sem portal.
(Konstantinos Kaváfis)
haikais
I
natureza lenta
no leve sono diário
de vida desperta
II
céu retangular
sala de espera abafada
jardim trepadeira
III
flores invisíveis
virtuais e coloridas
borboletas mortas
IV
cana-de-açúcar
incendiária do corpo
doce desperdício
V
células humanas
há décadas recicladas
como todo lixo
VI
raiz principal
de prática não pensada
sobre um poste elétrico
*inspirado no filme waking life, de richard linklater
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