quinta-feira, 24 de março de 2016

imagine sobrenomes que anunciam
todas as quedas de monomotor

ou alunas que não tive
e que leram (ela leu)
luvas de pelica

suicidou-se

:

a vida tem um amor
que é desembocar coisas
pessoas
objetos
numa via principal

eu desconfio que é a morte
esse ramal
(Depois do seu nascimento não haverá mais lugar para lutas.)
Murilo Mendes 

eu quase choro ao ver
coisas mundanas

[apesar de já ter desgastado o dicionário de comoções]

uma viagem em família
pai, mãe, filho único semi-adulto

os olhos esperançosos dos pais
a qualquer mísero
pobre
vazio
diálogo com esse ser estranho na mesa
o filho


[houve uma preparação e performance do pai
em acreditar falar coisa que matutou por tanto tempo
a coisa mais interessante do mundo
e a conversa emendar-se por horas

não dura]

continuam viajando

esse tipo de amor me mata

sexta-feira, 11 de março de 2016

"Violinos: seda encrespada, queixas de mulher à noite sozinha." 
(M. Darwish)
"...esta noche angustiosa
llena de dualismos"
(A. Pizarnik) 
consummatum est: 
há solidão em qualquer não-litoral
e por quando passo trêsquatrocinco dias
componho o hábito teu

esquartejo as frutas
recriando teu vulto na cozinha

eu como,
pelo menos,
tua sombra



quarta-feira, 9 de março de 2016

queria começar e terminar
um poema como o uivo, de ginsberg
sobre a minha geração
mas ela não tem morrido nem trepado
em becos sujos de denver ou das rocas

minha geração tem belas fotos
e o barulho que ela faz
é silêncio

allen ginsberg fala de uma geração que uiva
a minha

posa