I
M. acordou destinada a comprar ela mesma um pincel
“para pintar”, porventura pensaram
tal qual vocação descoberta tardiamente
pelo prazer do Ver
quiçá reproduzir
claro que não
II
M. concluiu que um bom verso é ver todo dia é um gato morto
quando desce à banguela o prolongamento da Prudente
estremecendo as vísceras de dentro,
voando o cheiro das que se mostram atropeladas,
e revivendo a compaixão pelo desencanto,
leva sua mão ao peito
III
M. agradece,
pois há quem recolha
cabelos, teias de aranha, fuligem, vísceras e gatos mortos
sem poesia, por ofício
como M. e o seu pincel
cuja maestria é
limpar melhor os ventiladores da casa