quarta-feira, 29 de agosto de 2018

mulher comum

I
M. acordou destinada a comprar ela mesma um pincel
“para pintar”, porventura pensaram
tal qual vocação descoberta tardiamente
pelo prazer do Ver
quiçá reproduzir


claro que não


II
M. concluiu que um bom verso é ver todo dia é um gato morto
quando desce à banguela o prolongamento da Prudente
estremecendo as vísceras de dentro,
voando o cheiro das que se mostram atropeladas,
e revivendo a compaixão pelo desencanto,


leva sua mão ao peito


III
M. agradece,
pois há quem recolha
cabelos, teias de aranha, fuligem, vísceras e gatos mortos
sem poesia, por ofício

como M. e o seu pincel
cuja maestria é
limpar melhor os ventiladores da casa