I
maluz, na foto, frequenta-me
como a noite cansada, cuja equação louca do tempo e da demanda é desviar de buracos enquanto se pensa
enquanto se tenta definir o que é ouvir marina lima cantando
lágrimas no escuro,
mágica do absurdo,
com aquele tom errado, meio bjork, meio anos 70, mas em 1984, atrasada e rouca
marina lima me importuna, me inquieta
tanto quanto os olhos de maluz e todo o vazio que ele eleva, de pretume e socorro
II
fiama hasse pais brandão é a mulher que nunca sorriu em foto, envolta no monalisiano aspecto
com esse ermo entorno de sisudez,
maluz faz a ela companhia,
que na boca travada diz poesia
mas nos olhos diz mais simples,
diz passar os dias, sem previsão de impaciência
escuto as conversas e os conselhos
mas fiama lê maluz e eu finalmente entendo
“até na íris dos olhos o tempo/ faz estalar faíscas de luz breve”
escuto os estalos:
o pretume vira prata por segundos
abraço todo esse incômodo que é viver
no escuro,
do absurdo
através da foto de maluz
através da foto de maluz