pesquiso
sobre todos que morrem e nascem
em vinte e quatro de agosto
abro o diário da mulher calada -
que não foi neste dia, mas quis bem antes de encarar as bocas gigantes, os planos violentos com rododendros, as traições, os filhos, a faculdade, os anos 50, o 'medo, feio & grande & lastimável', a técnica -
e existe o sono.
o sonho distante,
a genialidade,
o sono,
o metano,
o sono
[ah, sim:
Simone Weil
Getúlio Vargas
o cego Borges e o paulo Coelho]
mas a mulher caquética
acorda adoece pensa
no tempo-palavra enquanto me lembro:
*memórias 1
antes, o forno estralava pois a mãe costumava acendê-lo para afastar os gabirus
o canal do baldo não havia sido reformado
ratos gigantes eram caçados e mortos com vassouras e rodos, os sabres de meu pai
os bichos comiam nossa despensa e nossas portas, salvo a do último quarto, de metal, onde nos escondíamos
para além dos cabos de vassoura quebrados, o desafio era conceber que, antes do verbo,
roedores já estavam lá
*leituras
um dia, a mãe abriu o registro que libera a passagem daquilo que permite a combustão,
umedeceu panos e com eles bloqueou as frestas da porta do quarto de seus filhos
*memórias
tal qual a outra mãe fazia por conta dos ratos
entendo:
as mães têm suas artimanhas para que seus filhos
[não sejam acordados pelo gás inodoro
não sejam engolidos por um 'aborígene do lodo']
possam dormir em segurança