antes de todo sonho, a imagem
da água que ira o mar
frente aos eminentes coqueiros do
Atlântico
onde se embota a vista de um abutre
altura que protege a ave
até que o vento interrompa a sova das
areias
nesta mesma paisagem, engendrar uma
vida
e deixá-la secar tal qual os
peixes
parece possível
como um anjo, o filho se enrosca em
caniços da lagoa
culpa de uma sorte lançada ao clarão
de uma paisagem de nuvens de
estio
há que se sonhar para encontrar o odor
íntimo
sem que se estraguem os dentes,
colecionando os cabelos que embranquecem das pontas à raiz
há que se esquivar da lembrança do
céu
e despertar quando legítimo
estrangular alguns ventres
louvar a voz estridente
forçar o pigarro
e garantir a sucessão do inesperado
há que se reconhecer o absurdo do muro
e da morte no asfalto
e não há mais nada,
só o luto