segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Blue Sea

I
Mesmo que a olhos nus
(só se observe o coma
imóvel, quieto
a vagarosa respiração
o sono)
Ainda assim

II
Os refletores dos portos
Mais que longínquos
No alto dos faróis
(em cada cais
em cada pedra
em cada fenda)
Nas marinas, a espuma
A calma baía
Mostram-me os barcos
As velas, o vento
Oscilando entre as formas
(de algum corpo)
Das transeuntes águas-vivas
Até a proa enroscadas

III
Apesar do saudosismo
Nunca naveguei em mar aberto
Mas a olhos fechados
Onde o náufrago é certo

(o mar é aqui
a imensidão enclausurada
o silêncio, o toque
a melodia no vácuo
onde inexisto)

IV
Entre a córnea e a pálpebra
Entre a América e a Ásia
A grandeza infinita
Tal como o céu
Bem como toda inércia
Infinito pacífico
Oceano Pacífico

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Obediência

Há algo mágico
no repouso ao travesseiro
este, que sussurra:
- Levanta-te,
explode,
finde com isto.

No tempo o qual
o intervalo é a noite
sempre a culpada
e a vista não são
senão as grades
da janela defronte

E continua o travesseiro
a enfiar-me fagulhas de inspiração
pelas orelhas
- Vide, tuas lágrimas
não as quero aqui
levanta-te e salgue algum papel

Meu travesseiro é marcado
revestido das memórias
ele que já deveras maltratei
- Anda, tranque-se
Obedeci e levantei
Escrevi esse poema

Me redimi.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Raskólhnikov

era si próprio
uma espécie de subterfúgio
da loucura vívida
e radiante
toda a genialidade
e seus algozes
voltavam-se a ele
eram, pois, ele
o lobo da selva de pedra
fortificado pela decadência
o mister da fome
as vísceras d'um desnutrido
findou como quisera
a sociedade, cuja rasteira
foi apaixonar-lhe pela criatura
que nada tinha
nem a sua vida para juntar-se
a coisa alguma
mas a vida dele
findou, a ela
pertencendo