sábado, 30 de junho de 2012

A Alberto Caeiro

Diante do barulho confuso
dessa Lisboa de pedra
a canção desse café Luso
escorre pela sua janela

De fora, o observo
com seu ar descansado
a voz que canta o verbo
parece tua, sobre teu fado

Então, faz-me uma serenata
como a que lhe venho dar?
doce e fresca como a mata
que irá se inundar

Será a fonte tuas papilas
que de sensíveis não se conterão
perdendo no caminho da saliva
esse pedaço de paixão

E, por fim, se desmancha
nessa onda de calor
causada pela dança
dessa serenata de amor

domingo, 10 de junho de 2012

Íncubo

me beijam
todos os espíritos malignos,
que me libertam,
os gênios ruins

(me chutam os que
me amam e
me geraram)

o gene ruim

continuam a me beijar
em alma
os piores silêncios
da mais cruel

loucura

(deles)
rechaço-me inteira

quarta-feira, 6 de junho de 2012

colo

eu melhoro quando
vigorosa a chuva cai
e os bocais cedem à força
como se viessem a mim

os respingos...
brilho de madrepérola

a lua apavora
corrói meus demônios
destaca mutilações
aguça o pesar

os brilhos...
fulgor da lapidação

isso, um violento arrancar
da minha, há muito, solitude
e substituindo meu suicídio
pelo seu colo

o pão...
preciosa gema, comunhão