domingo, 24 de fevereiro de 2013

Crônica da louca mulher

Batia-se na esquina daquela rua movimentada. Já havia bebido cerveja, vinho e outras coisas que não faço ideia. Água do mar, talvez, também. Há momentos da vida de uma mulher que pouca gente sabe. Há momentos obscuros. Assim como, algumas vezes, preferimos homens a couve-flores, como diria Mrs. Dalloway. É aí onde mora o perigo. 

Eu a vi, descabelada, suja. Poderia ser confundida facilmente como uma moça de vida fácil. Acho qualquer outro termo pejorativo. Eufemismo é uma ótima arma para textos +18. Ou uma péssima, pois veja que não me estranharia uma série de interpretações românticas do caso. Bem, voltando. Era Acácia o seu nome e o nome daquela árvore de pequenas folhas.

Assim era com Acácia. Ela enlouquecera. Devagar, de folha em folha. No auge dos seus 18 anos. Acácia começou a se despir no meio do tráfego. Não, na margem. A marginal. Escorria entre suas pernas, entre seus olhos, pelo busto e pelo umbigo e continuava este fluxo. Escorria algo de insensatez. Algo de resto de um telefonema maldito. De uma mensagem instantânea. Acho que escorria por Acácia um alvo chá de descarte. De abandono. Acácia também, ainda, conseguia debochar de si mesma. Ali, entre o asfalto. 

Mas Acácia não desistiu. Postas as roupas no ombro direito partiu. Andarilha, como sempre, foi até a casa de um couve-flor. Óbvio que não o era, mas com semelhança assombrosa. Não era o porteiro que iria impedir Acácia. E não foi. O elevador também não. O eco do corredor ao toque desesperado da campainha muito menos. O objeto há muito estimado aparece.

- Morena?

Com ares de desentendido.

Ele ficou no chão.
Ela, sobre ele.

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