terça-feira, 8 de abril de 2014

dias de

sou bicho recalcado, tal como macunaíma e, ai, que preguiça de escrever mais que tantas linhas. hoje chove no equador e eu lembro alguma poesia antiga em que eu falava do abril de três anos atrás e rodava, girava e eu escrevi para que quem lesse entendesse o que foi o meu abril. olho saramago nos olhos que gritam morte. saramago, cícero, montaigne, sócrates e deus me livre deles todos. eu ensaio um diálogo - reproduzo - não os diálogos de sócrates que li nessa viagem. a beletrista à frente me diz que sim, tá calor, não é, bom dia. eu ouço a manhã inteira a morte na boca dos outros e em casa tem saramago intermitantemente me lembrando que a morte é miúda como mulher de um e sessenta e cinco, no máximo um e sessenta e sete - era a minha altura no abril de três anos atrás, se bem me lembro. a morte que titubeia com uma lembrança, cai de joelhos e reergue-se. eu lembro de outra beletrista que me mandava falar sempre. mas eu desimbestava feito doida a falar rápido e eu falo baixo. e ela me mandava repetir e respirar e respirar e vá com calma, mocinha. está certo, mas vá com calma para que eu capte se sua coda é simples ou complexa - só não é clássica. eu fui à roma há alguns dias e não pude escrever como escrevi aos dias lusos. eu não digeri toda a velhice nada tacanha daquela cidade que ao contrário é amor. mas é bem ao contrário mesmo. registrava algo no hotel feriado, terça à segunda, e aquilo me foi uma eternidade. gostaria de achar o registro mas tenho em mim a certeza que em um ato nada falho eu o fiz cair por alguma brecha daquela cama que me acolheu de terça à segunda nessa eterenidade. eterna serenidade. coitada da camareira, ela era legal, voltava sempre depois, não voltava, estava tudo bem. coitada da camareira, se ela ler em português ou será que não era uma compreensiva das línguas românicas. choveu lá no trópico do norte, da palavra há muito evitada em casa por conta do mau agouro. que curioso, eu não sei bem o que falar de roma porque eu não os compreendia bem. não tinha fado, a música era estranha, talvez eu não tenha nem ouvido música então. a não ser aquela que dizia frio e chiava. (lembrei-me d'outro poema agora). não tinha macarronada que não ardesse à pimenta. uma coisa aprendi, uscita lato destro, uscita lato sinistro, fonte de trevo e aquela manada de gente que não sabia nem que netuno era irmão de plutão e que jogavam moedinhas só para conseguir amor. grazie, grazie, vaticano me tentou a voltar outras duas vezes, eu vi o papa francisco mandar um alô aos brasileiros, ô raça essa desses crentes, que energia terrivelmente acolhedora, eu quase chorei ao ver o papa francisco, bem fofinho, a comida italiana é uma delícia. na terça daquela eternidade encontrei outro beletrista, este mais novo, mas de um ar velho nada tacanho tal como a cidade inteira cheirava. e eu falei desimbestadamente com ele, falei baixo, sim, mas ele ouviu bem. e eu aprendi duas coisas: ouvir é bom e ir embora também. ciao.

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