terça-feira, 18 de agosto de 2015

nunca concordei com a metáfora do anoitecer e morte
como nunca entendi outras coisas humanas

a falsa inspiração, sutura inflamada
o aviso dos que buscam uma ideia por dia

[ninguém pôde ver aquelas ondas
na ponta do morcego perto da meia-noite

e com o que se pareciam:
desfibrilador em colo,
preâmbulo do espirro e

o convite à dança]

nunca poderei concordar 
com a noite ser a morte

a menos que seja
quando ilegitimada

pois, quando desce a faixa néon
anunciando pôr-do-sol ou nuvem HAARP
e o breu se instaura
não se veem as cruzes na beira da estrada

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

"É doce morrer no mar"

"Como se houvesse ondas de escuridão no ar, a noite avançava, abrindo casas, colinas, árvores, como as ondas que rodeiam os flancos de um navio naufragado." (Virgínia Woolf, em 'As ondas')

quando a escuridão encobre uma ideia
com os panos que já nos abafaram
o som que as ondas fazem ao quebrarem na costa
é aquela hipnose por mesmerismo

a cura ergue-se transformada
dos fluidos naturais da água das marés
pelos fluidos cósmicos, essa viagem charlatã
até a tua ideia
e pensas em religiões africanas
em metáforas de caymmi
e na odisseia
então


*
tudo o que foi aberto pela escuridão
a deixa escorrer, como o girino quando criança num charco próximo
preto, arteiro e veloz
foge da mão

quando vês, como tudo finda
nu, claro, como amanhece
outro dia