segunda-feira, 18 de março de 2019

"só voa o que tem peso": uma série sobre pesadelos

I
em uma passagem de tempo
dou-me conta como repito movimentos
algo quântico, ficção científica
entro em looping eterno na mesma cena:
tento gritar como naquele outro sonho dentro de um carro
mas de rouquidão as cordas vibram
verto-me em suor

II
fraudes são descobertas em meu nome
ainda assim, todas com ameaças à minha vida
sou sabatinada próximo de meu horário de almoço
e, quando chego à casa, há homens armados
homens grandes, armas grandes
neste sonho eu voo, mas lenta, como submersa
toda submersa sem alcançar o chão

III
tenho consciência da encenação
mas a força do que vejo me devolve a realidade:
uma mulher morta, sangue entre as pernas,
numa ruela-cenário
o julgamento dela, a absorção dos culpados
meu grito novamente sai rouco
a cena acaba, encaro as ruas com naturalidade
encontro os meus, cumprimento o assassino
não vejo mais a mulher

IV
sou demitida,
como um ramen
empurro a garota que veio antes de mim
saio chorando

V
menstruada no apocalipse
confecciono absorventes de farrapos e plásticos
e me pergunto o porquê que não acontece como ouvi falar
na guerra
as mulheres do front não menstruavam

VI
escalo varandas alheias
em uma delas, o dono vem armado com um taco de baseball
com pregos
e crava em sua testa o instrumento
em seguida, na outra mão,
mostra um cutelo
também cravando-o em seu crânio
fujo com H. e tranco o dono da casa por fora
sinto a dureza da fechadura auxiliar típica de portas
de apartamento

VII
uma escola inaugura,
mas na festa morrem mais de 70 pessoas
o norte como inspiração sempre será sinônimo de morte
atravesso o pátio de onde trabalho atrás de resmas de papel
mas há algo errado
e duas crianças armadas atravessam sorrateiras as mesas da cantina
onde tantas outras lancham aquela marmita preparada pela mãezinha
uniformizadas diferentes,
entram na turma dos que tem 12 anos
e matam 2 deles
ficamos felizes por não ser 70

VIII
xingo minha mãe em seu aniversário
como já aconteceu

IX
algum sonho mágico-erótico
gozo
mas, em seguida, surge em mim um pênis e testículos enormes inchados
mal posso caminhar
pergunto-me se é por isso que homens não fecham as malditas pernas
em local algum
pergunto-me se este é o meu castigo por gozar e
por que infernos um falo incômodo, como vou esconder isso?
pior pesadelo desta vida

X
o próprio necromancer
facções, joão dória, pílulas de algum alucinógeno
árvores queimadas, aviões caindo
a brincadeira de criança com uma bola flamejante
distopia completa em horas de sono

XI
pari em pé uma criança enorme
e a deixei aos cuidados de uma tia distante
mas me culpei, claro
e a resgatei, amamentei
ela me julgava com um olhar inesquecível

XII
facções de cyberpunk em muriú
levando-o de bicicleta a ser salvo
eu me salvo
ele está com ranho na cara inteira
ao lado de um homem com a braguilha aberta
choro muito e quero morrer

XIII

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