domingo, 14 de junho de 2020
maio p. 2
um dia exatamente igual ao outro. alguns lampejos de outras ideias que não o tal microorganismo. a primeira veio domingo, ailton, o krenak que em 1987 pintou o rosto com tinta preta de jenipapo durante a assembleia constituinte – um vídeo que você provavelmente nunca viu –, com sua sabedoria ancestral, usou uma das metáforas mais interessantes que já ouvi: se você tem uma gaiola de porcos, não pode esperar o canto dos pássaros. fiquei atônita, enquanto o cientista e a repórter visivelmente não o escutavam. segunda-feira veio com a poeta de literatura pretística que perguntou por que nunca me autorizo/ autorizam a ser escritora, mesmo escrevendo há mais de dez anos. fiquei atônita e então escrevi alguns versos que não entendi. a terceira veio ontem, na fala de uma pessoa que compartilha suas leituras no youtube, eu estava procurando sobre j. joyce e ela disse assim sobre Ulysses: você tem que enfrentar esse livro como ele de fato é: um livro – objeto de leitura a ser iniciada e finalizada, não como um monstro. fiquei atônita e terminei de ler Retrato de um artista quando jovem. em algum momento o pensamento de Dedalus “era uma penumbra de dúvida e autodesconfiança, iluminado em certos momentos por clarões de intuição” e eu fiquei feliz com a coincidência. pelo caminho da piedade e do terror, tive muitos pesadelos que revelaram todos os meus medos - o cientista sidarta disse que qualquer sonho transforma a vida da pessoa e, claro, fui transformada. há que se lembrar do simples e como também o jovem Dedalus, “desejo apertar em meus braços o encantamento que ainda não veio ao mundo”. será isso possível? será que encontraremos finalmente os pássaros que cantam? ou o tal coração selvagem de Clarice? desculpa tantas perguntas, sou ainda muito jovem e tenho tempo para devaneios...
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Maíra, das poucas certezas que tenho na vida, uma delas, é que poeta nenhum, escritora nenhum, daqui e do mundo, que já morreu ou que vive, é capaz de escrever o que você escreve. Só há 1ma de você, e isso não pode ser menos do que especial.
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