terça-feira, 22 de setembro de 2020

a estrada paterna de segredos

é aberta a mãos de moça,

zona magnética de tuas partidas

é uma história içada pelo barco,

levada ao coração da floresta

onde se busca a riqueza dos homens

 

das aulas de francês, lembrava-se apenas do mar

e não lhe punha medo a maré cheia, o isopor no ombro, 

muito menos o ancestral sangrador

 

passou a medir o local dos minérios

que pigmentam os enxovais e os livros velhos

encadernados com tecidos de núpcias 

 

no caminho de volta,

confessou-se a um gerente de banco

e descobriu do que são feitas as gentes do comércio

 

os tigres da ira

pedem que não te desfigures,

que fiques a salvo do pólen 

e não receberemos mais as ciganas,

nem as curandeiras,

nem os trotes violentos

 

(eu poderia decorar A Montanha Mágica

para depois te mostrar

como respirar melhor

e prepararia qualquer prato ao thermidor

para te ver lambuzado e triste

nos dias dos teus anos)

 

prometo não brincar mais de Zila nas pedras,

nem catar o coentro da sopa,

nem olhar nos teus olhos

 

desfaço meus caminhos pelo piche,

não fumo mais teus cigarros escondido,

nem leio as histórias policiais

 

vigio para que tua pele não se descole

nem deixe de expelir esse óleo,

liga que fecha teus poros às alergias

 

mas reparas bem:

essa estrada margeada de palma e angelim

ainda não pode ser interditada

sem antes levar a Montmartre pela segunda vez,

ou às águas que te lavem a couraça de óxidos de titânio,

a tratar das manchas

 

e que tu escutes com teu ouvido direito:

há, que te acompanham, um espírito da floresta

e uma arribação de água salgada 

e eles anseiam por tocar,

com a leveza precisa,

em tuas mãos de moça


Nenhum comentário:

Postar um comentário