pescoço e cabeça nus de pele escura, desguarnecido,
um urubu aguarda para ser recolhido do canteiro na avenida que atravessa a cidade
permanece um amontoado de penas negras há muitos dias na estrada vicinal de seu rasante
mente sua etimologia ao simplificar coragem por abutre
que ele não tem pena de si, D. H Lawrence já enunciou, portanto sabemos
é ele que se arma imenso sobre os postes muito altos e sustenta o céu
faz o trabalho sujo sem o ônus da insalubridade
e ainda ninguém os recolhe quando são eles a sujar e feder
o inquiridor escolar pergunta se há vermes que comem os urubus com seu olhar abominável
o professor faz sua paráfrase e responde que sim:
os enganados da nação compram pedra por feijão, galinha por abutre
e pergunta retoricamente para seus aprendizes do nada:
quem tem pena do pobre trigueiro que jaz com fome nas grandes avenidas?
o silêncio,
este que é, sim, a última brita
pavimenta nossa ossada alçada