a um certo ângulo, quando sentada na cama, vejo uma árvore da qual desconheço sua morfologia e nome científico. sei dela porque a vi tantas vezes no caminho pro sertão; sob sua sombra, as vacas e os cavalos judiados. essa árvore está a uma larga distância, mas ainda a vejo numa área que é sempre verde, já que circunda o vale do rio. quando estou para morrer, me imagino sob aquela sombra, em silêncio e sem qualquer pessoa ao redor. isso não me consola por completo, afinal sempre há alguém olhando para longe. também não me consola porque penso nos bichos e eu não sou muito dada a comunhão com formigas. nesse momento também sempre me volta o telefonema do meu pai, quando soube que a pressão ultrapassou a rua, e diz que não deveria ter sido assim. que eu atropelei o que estava previsto para meu futuro, assumi coisas por demais precocemente. fico me indagando se entendi toda a lição de forma errônea, quando tantas vezes eles me contaram sobre coragem de ganhar a vida e me parecia tudo tão cedo, que até meus vinte e cinco anos soaram tardios quando tudo começou. sob essa árvore qualquer, num campo qualquer e provavelmente propriedade das forças armadas ou de algum coronel do interior que fez fortuna com a posse, eu queria voltar a escutar os conselhos dos meus pais sobre minha vida em decisões ou sobre apostar na loteria quando há mais chances. que tenho uma certa liberdade e dedicação que eles não puderam ter. poderia estar acumulando títulos emoldurados nas paredes, talvez iniciado uma editora decente, estaria dialogando nas universidades sobre qualquer coisa sobrecomum daquela linguagem pedante. mas a lição foi a de trabalhar, estava tão evidente. quando foi que este flamboyant foi descrito nos autos, real, pedagógico? com um nome, um destino, e o valor minguado do meu tempo?