sexta-feira, 4 de maio de 2012

Paradigma do sufoco

adormeço lacrimejando
antes fosse de bocejar
com olhos fundos
despertei, convivi
e, a cada encontro
com meu reflexo
de soslaio ou por inteiro
eu estava bela
como há tempos não reparara
escovei os dentes chorando
num movimento melancólico
a escova, a pasta e,
sobretudo os dentes,
cantaram-me:
"- Mas por que estás assim?
com seu alforje de mágoas
tão carregado, se teu luto
já devia ter passado?"
com os equipamentos cantantes
em seus suportes, pasta e escova
seguros de suas utilidades
dei-me conta que era
meu único estigma
o desamparo
perante mim mesma
Freud errou na previsão
meu luto não passou
agora já não choro
mas não confio
que tal intervalo
dure mais que esse
ou talvez esse
estalo ou esse
verso

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