das coincidências de Eunice: ontem, enquanto esperava no hall de um apartamento desconhecido, para um desconhecido me receber e para que eu lhe pudesse falar algo, me encontrei com uma mulher. ela não me olhou nos olhos, estava entretida com algo e havia um mal estar quanto ao recinto ser muito pequeno. eu não podia fazer muito, a não ser olhar para aquele aparelho que ela tinha nas mãos [o entretenimento, as luzes, aquele imã misterioso]. então, no minuto que se sucedeu, ouço um toque. lembrou-me de todos os toques que já havia ouvido, que já tinha silenciado ou que já tinha respondido. o toque do celular do meu pai, o toque antigo do celular da minha melhor amiga, o antigo toque do meu próprio celular. então, com essa atração natural que esses aparelhos nos impõem, não pude deixar de olhar aquele nome que tomava aquela tela de 6". o nome que anunciava uma catarse, uma coisa que eu ainda não conhecia desde que conheci aquele nome. quem chamava a mulher ao meu lado, o óbvio, mas esse mistério terrível que a narração tem que passar até o clímax. rio, mas, ah, me digam vocês: quem? quem telefonava para aquela mulher com aquela sacola imensa que dividia um recinto minúsculo comigo por corridos dois minutos. era. ela mesma. a raiz, a louca, a vilã da história. era Eunice e, quando li isso, meus olhos marejaram, quis arrancar daquela mão que nada entendia sobre quem estava a chamar. e atender. arrancar daquela mão de quem não pôde me olhar nos olhos nem por um segundo. e atender. arrancar daquela mão apenas para ajudá-la a carregar melhor aquela sacola imensa que já a feria. e simplesmente atender. eu tinha boas intenções ao pensar em arrancar aquilo daquela mão. e finalmente poder falar com ela. falar com Eunice, perguntar onde ela estava, quando viria para um vinho, quando se enraizaria nos meus cães, nas minhas plantas que iam chegar. perguntar para Eunice o que se deu de Beatrice depois das tardes cantarolando baez na américa do sul. e onde eu poderia estar para ver a próxima vítima, para assistir como se daria, etc, ou só para poder ouvir aquela voz que iria reincidir uma pergunta sobre quem é? quem é? quem é? alô está mudo vou desligar e ligar novamente, tchau
domingo, 19 de abril de 2015
Eunice quem chama
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um fôlego.
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