sábado, 18 de julho de 2020
julho
há um episódio, na 2a temporada da adaptação da tetralogia napolitana, em que Lila está lendo no pátio do bairro acompanhada do seu filho. nesse momento, surge sua professora primária, a senhora Oliviero, quem outrora projetou esperanças sobre o futuro genial de Lila. neste encontro, a professora pergunta o que ela está lendo e a outra responde que é Ulysses. não o da Odisseia, mas o que fala sobre a vida prosaica. Oliviero pergunta se ela gosta e Lila responde que sim, mas que não está entendendo bem. nesse momento, a maestra diz que ela não deveria ler livros que não entende, porque não faz bem e elas engendram uma conversa triste. a história dessas amigas, Lila e Lenù, sempre me lembra Sílvia, minha amiga genial, com quem compartilho as delícias e amarguras de uma conexão profunda. eu não parabenizei Sílvia em seu aniversário, e isso me pesou a ponto de sonhar com ela nesta semana - um sonho emocionante - e tivemos uma breve conversa esclarecedora. lembrei desse episódio e de Sílvia em vários momentos em que lia Moby Dick. outra conversa que me lembrava constantemente é a que tinha tido com Hudson, quando ele me perguntou há um tempo se era difícil ler os clássicos. rapidamente respondi que não, que dizia mais respeito a disciplinar a leitura e persistir por horas ininterruptas. é como o maratonista, que treina acumulando os quilômetros. assim foi nos momentos em que aprendi sobre os cetáceos, sobre as leis e procedimentos de caça a baleias, a hierarquia nos navios baleeiros e os devaneios filosóficos do narrador (além do exercício de fazer vista grossa ao racismo). e assim, também, finalizei Moby Dick, com essa vista para o mar de outro dia em que estive diante dele. e como revela pouco antes da ruína do Pequod o capitão Ahab: "Porém, deixai-me antes lançar um olhar ao mar (...) Espetáculo velho, velho, e contudo tão novo. (...) É o mesmo... o mesmo para Noé e para mim. (...) Que vista maravilhosa!" Finis. o coração apertado não quer dizer o fim, mas o começo, pois estou viva, assim como Ismael e Moby Dick (e vocês, peixes presos e soltos que leram esse longo post na manhã de sábado, 18 de julho de 2020). isso pode ser um presságio.
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quantas referências! Adoraria ter o hábito de ler mais...
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