terça-feira, 4 de agosto de 2020
julho ii
tentando manter um registro de pensamentos pós-leitura, porque senão me atropelo em enxaqueca, hoje finalizei Luanda, Lisboa, Paraíso - de Djaimilia Pereira de Almeida - com essa bela pintura na capa de Nelo Teixeira. a @quatrocincoum me apresentou o olhar de Djaimilia na coluna de crônicas de Portugal e, como encantada sempre pelo desacontecimento e pela banalidade do cotidiano, encontrei alguém que escrevia coisas que eu queria ter visto. visto daquela mesma maneira, porque é bem possível. este é um livro desolador, de enredo previsível e não falo isso como algo negativo, porque o que Djaimilia faz com a linguagem é uma coisa genial. me parece que, como um escultor em madeira, são visíveis as lascas de excesso sendo deixadas pelo caminho e essas farpas, o dito e o não-dito, penetram profundamente em nosso coração. o trabalho chega a tanto que tenho a impressão que em cada período, a cada ponto final, ela queria dizer algo. e diz, intensamente poética. hoje, chove com muito vento em Natal, o que conduz facilmente a gente a imaginar o frio e a solidão de Cartola, Aquiles, Pepe, Iuri, Glória, Justina, Neusa e a morte espreitando tudo isso. quando o professor Dirceu Villa num curso da @acapivaracultural falou do poema em prosa de Baudelaire em Spleen de Paris, "Cada um com sua quimera", essa imagem se sobrepôs aos personagens do romance de Djaimilia. esse peso nas costas e a eterna sensação da espera. estão aí, também, o poema e o Baudelaire, melancólico como qualquer um neste domingo. bem, sejam quais forem as águas ou monstros que nos encarem, é preciso virar as costas para algumas ilusões e voltar pra casa.
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quanta sensibilidades! E quantas imagens bonitas. Você é capaz de escrever, e já faz isso bem.
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