sustentada pela quilha de um navio etrusco
que irrompe no mar Tirreno
uma carranca carrega esperanças
que irrompe no mar Tirreno
uma carranca carrega esperanças
no destino, não deixa de falar muito
com os cachorros como se eles entendessem
e entendem
perguntas muito complexas sobre a comida do dia
e de que maneira isso pode ser dividido para que todos
sobrevivam ao tempo da bonança
checa os retrovisores mesmo sem conduzir o barco
olha tudo o que deixou para trás:
aquele continente pendurado
chora escondida com tamanha careta no espelho
vê os tártaros se acumulando e as pálpebras inchadas
tem noção do ridículo e mesmo assim
chora
no banheiro
pega uma tesourinha de cortar unhas
que existe de enfeite já que as unhas se vão de outra forma
algumas na pele que coça, outras no tecido que engancha,
estas nos dentes tortos,
ainda há as que se cansam e simplesmente
caem
caem
covardemente, faz um pequeno corte na epiderme
com destreza metódica e o resto das unhas, vai abrindo
cutucando
coçando
sentindo
até que o vermelho surja dias depois
talhada na madeira podre dos que jamais quiseram nascer,
a carranca segue espantando maledicências
reza o ato de contrição diante da luz vermelha de uma capela
aquela que abre antes da fábrica
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