domingo, 20 de janeiro de 2013

Manhã - Mia Couto

Manhã (Mia Couto)

Estou
e num breve instante
sinto tudo
sinto-me tudo

Deito-me no meu corpo
e despeço-se de mim
para me encontrar
no próximo olhar

Ausento-me da morte
não quero nada
eu sou tudo
respiro-me até à exaustão

Nada me alimenta
porque sou feito de todas as coisas
e adormeço onde tombam a luz e a poeira

A vida (ensinaram-me assim)
deve ser bebida
quando os lábios já estiverem mortos

Educadamente mortos

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