faz-se mosaico do deserto
mas como seria possível
a imagem é a mesma
dunas alaranjadas
dunas alaranjadas
salvo alguém a atravessá-lo
então faz-se sombra e anula-se a solidão dos grãos
e se alguém atravessa o deserto
é mesmo que uma ofensa ao caminho
ofensa à natureza íntima do ser grão
da respiração do deserto
que é só, não há sombra não há homem
mas quando
há homem e há braços de areia
que se desfazem nos abraços
tudo se move, mas não se demove
movimento sempre
e sempre que me esqueço
e, se paro, não me mexo
morro...
até o morro se mexe
duna, o karma na areia se risca:
move-diça
e danças, danço e vamos
por isso aqui em minha amnésia
não posso esquecer de andar
se eu parar
meu mundo vai se acabar...
(ou apenas o deserto acabará
pois os espaços vazios juntos
somam-se em um novo mar)
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