sexta-feira, 25 de setembro de 2015

"não me esqueça"

n'alguma boa temporada
ficaste em silêncio, qual jogada de mestre
e o impulso do empréstimo às palavras
o apogeu do consolo
viu-se descuidado

[hoje, atendi o carteiro no portão de casa: 
multa de trânsito

hábil lobo, prendeu-me na rua]

*
o carteiro diz: fechei o portão para que seus bichos não fujam
enquanto eu assinava o papel

[hábil lobo, por isso o admiro
como esperou esse tempo e,

com a saliva quente
decide minha memória: 
não me esqueça, 
eu também sou você

não me esqueça,
eu também sou você, tânato, 

não me esqueça]

vi-me, portanto, nua, recordada e sem medo da morte

meus bichos nunca fugirão.

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