terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sobre uma lembrança (dos outros)

Retrato falado, escrito, vivido. Adornado com a simplicidade e a minha sempre presente e querida descrição. Teu rosto bem sereno, como quem nunca se afeta. Uns olhos distantes, brilhantes e coloridos com a água do mar. Foi um retrato tirado no meio da calçada, num esbarrar, num lapso de embriaguez. Tinha uma música e, incrivelmente, lembrava a infância dela. Um dia já você já lhe dissera que lembrava a sua também.
Não faltaram espectadores, mas curiosamente só havia um fotógrafo. Dois, um par de olhos e eram os dela. Apreciaram aquela cena de forma completa e você não viu quando ela disparou o flash. Na verdade, tinha desligado porque as cores estavam numa perfeita harmonia.
Assim como nunca quis que soubesse da fotografia, e você não sabe, também desconhece a reciprocidade das inocentes e impulsivas palavras que ela ouviu aquele dia. No retrato vejo você, apenas. Uns refletores e buzinas. Um coração disparado e um riso contido. Incontido após tudo isso, riram juntos e você disse a ela que a sua cara de espanto estava hilária. Que não precisava de tudo aquilo e que exagerou na bebida.
Não pense que desconheço o sentido das coisas, ela sou eu. E você também. Só que com mais alguma coisa... e foi essa coisa que afrouxou o nó das pétalas e azedou o sabor da uva. O vinho que eu bebia não é o mesmo, o verde não tem mais o doce sabor. A garrafa compartilhada já não era suficiente para o libido.
Nessa fotografia eu vos encontro junto a uma áurea de sentimento inenarrável, como uma identidade. Olha, ela não está nem tão envelhecida como nós teríamos imaginado que estaria... Mas é nesse porta retrato que a poeira se acumula com maior intensidade.

5 comentários:

  1. Vou postar aqui pra você se sentir prestigiada e pensar que eu li seu post ou alguma coisa do seu blog.

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  2. Deixar que a aventura de ser gente, envolva-os.

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  3. Quando alguém somente menciona "fotografia" ou a coloca num texto isso já me prende a atenção. É natural aos fotógrafos.

    Mas, sabe o que não é natural aos fotógrafos? O tempo. Eles se confundem tanto em seu passado/presente que o tempo vira uma coisa clara e ao mesmo tempo embaralhada.

    Quando as pessoas comuns começam a fazer a fotografia ficar cada vez mais próxima delas a confusão se estabelece. E qual é o tempo certo pra saber se o que é real é o fotografado ou quem olha a fotografia?

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  4. o real é o fotografado e os olhos que estão por trás das lentes, somente :D

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