segunda-feira, 29 de abril de 2013

Escavação - Mário de Sá-Carneiro, Paris, 1913


Numa ânsia de ter alguma cousa, 
Divago por mim mesmo a procurar, 
Desço-me todo, em vão, sem nada achar, 
E a minh’alma perdida não repousa. 

Nada tendo, decido-me a criar: 
Brando a espada: sou luz harmoniosa 
E chama genial que tudo ousa 
Unicamente à força de sonhar... 

Mas a vitória fulva esvai-se logo... 
E cinzas, cinzas só, em vez de fogo... 
– Onde existo que não existo em mim? 

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Um cemitério falso sem ossadas, 
Noites d’amor sem bocas esmagadas – 
Tudo outro espasmo que princípio ou fim... 

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