terça-feira, 7 de outubro de 2014

ouvi que querias poucas imagens
como o olhar de sá dona de renato caldas
queria a persiana entreaberta
e o sol das quatro entrando na sala
ouvir seus versos em bocas alheias

ouvir o sol dançando com a poeira
ouvir o que as paredes respiram
ouvir o devir de ouvir
todo ouvir é uma fala inteira
todo ouvir é um abraço/leve afã

hoje ouvi todo o som do mundo
enquanto engolia um café melado
ouvi o miado daquele gato que descansava
que estava há dois dias apodrecendo
em frente à minha casa

ouvi o fim de um livro, sua orelha marca-página

o sinal da catapora entre os dedos,
resto de cabelo cortado no pescoço

ouvi de uma boca arroxeada de vinho
ouvi que eu tinha que ter ido
mas que assim fico
me ouvindo

3 comentários:

  1. De uma singeleza tocante, Maíra... comovente... profunda... Me senti afetado, sobretudo, pela ênfase no "ouvir"... confesso que o tema da escuta me é caro... quem realmente, nos nossos tempos, se dedica a ouvir? A sentir os sons cotidianos mais magníficos? Aliás, quem ouve, sincera e detidamente, a si mesmo? Parece que vivemos numa cultura que estimula a fala (falamos demais), supervaloriza a boa comunicação, e em que as imagens tomam nosso tempo demasiadamente... porém, não há a mesma atenção ao ouvir (inclusive, me ocorreu agora, nossos pais, em geral, não mencionam a primeira palavra que ouvimos, mas sim a que nós "falamos") ouvimos muito pouco (a nós mesmos, aos outros, a tudo)... enfim, acho que já falei excessivamente hehehe Abraço!

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  2. pense numa coisa que você faz é ouvir!

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