segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

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há muito me falaram: as vias correntes e suas esquinas cheias de pequenos jardins, buganvílias e dos poemas para elas feitos quando vim  e venho sempre  ouvir sobre as coisas que caem ou como vinho na camisa mancha, mas nenhuma árvore vez alguma caiu sobre meus pés

dizem que sou o homem que desceu no poço, segurado por uma corda e pela força de desconhecidos ou o familiar que aguardou a lambida no pé d'um cão de rua ou o poeta que jamais aguentaria setenta anos de vida

algo me diz sou o não que se fala e também o que não se fala, que revisita pouco o ar com sons sobre a naturalidade da mudez/ o esforço severo da fala rocha

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sou o tal-leitor-não-ninguém e sou também o vinho que me destranca ou o vinho que mancha toda a imagem dos que resolvem escrever uma carta de amor, os bêbados que não conseguem deixar a bebida enquanto se tratam de uma psoríase, os jovens que se impacientam ante a paixão. sou esse vinho de não-estanque, mix, torneira que vaza, cálice buarquiano, enfim

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