terça-feira, 10 de novembro de 2020
domingo, 25 de outubro de 2020
O Gênio dos Gênios
Filhas
do Seridó oriental,
Rogo:
–
Tranquem essas portas,
e não nos acordem enquanto não sejamos
de mal ou menos – pais de um filho
apenas para escrever
sobre este filho
Então pisaremos no último lajedo,
A ouvir as pragas
Vibrando as facas sobre as peles das palavras
Abra-se a derme:
extirpe o belo
Entregue a alma a quem te procura.
Quando vier a hora encarnada,
tiro
a mirra, enfeito meu colo de alecrim e
sirvo o banquete
domingo, 18 de outubro de 2020
pérola negra
terça-feira, 13 de outubro de 2020
em um simples corpo
o vácuo?
(há almas pairando)
luzes do que cremos um dia?
aquele ímpeto de jovem por esquecimento?
narrações de histórias trágicas na rede elétrica?
como podem
estes corpos que passam
não se olharem - sempre em temor?
uns pesarosos de silêncios,
represem o ar!
e leiam palavras sobre as coisas bonitas que ouço
deixe que venham
bênçãos &
roupas folgadas
bons augúrios ainda virão?
terça-feira, 22 de setembro de 2020
a estrada paterna de
segredos
é aberta a mãos de moça,
zona magnética de tuas partidas
é uma história içada pelo barco,
levada ao coração da floresta
onde se busca a riqueza dos homens
das aulas de francês, lembrava-se apenas do mar
e não lhe punha medo a maré cheia, o isopor no ombro,
muito menos o ancestral sangrador
passou a medir o local dos minérios
que pigmentam os enxovais e os livros velhos
encadernados com tecidos de núpcias
no caminho de volta,
confessou-se a um gerente de banco
e descobriu do que são feitas as gentes do comércio
os tigres da ira
pedem que não te desfigures,
que fiques a salvo do pólen
e não receberemos mais as ciganas,
nem as curandeiras,
nem os trotes violentos
(eu poderia decorar A Montanha Mágica
para depois te mostrar
como respirar melhor
e prepararia qualquer prato ao thermidor
para te ver lambuzado e triste
nos dias dos teus anos)
prometo não brincar mais de Zila nas pedras,
nem catar o coentro da sopa,
nem olhar nos teus olhos
desfaço meus caminhos pelo piche,
não fumo mais teus cigarros escondido,
nem leio as histórias policiais
vigio para que tua pele não se descole
nem deixe de expelir esse óleo,
liga que fecha teus poros às alergias
mas reparas bem:
essa estrada margeada de palma e angelim
ainda não pode ser interditada
sem antes levar a Montmartre pela segunda vez,
ou às águas que te lavem a couraça de óxidos de titânio,
a tratar das manchas
e que tu escutes com teu ouvido direito:
há, que te acompanham, um espírito da floresta
e uma arribação de água salgada
e eles anseiam por tocar,
com a leveza precisa,
em tuas mãos de moça
sexta-feira, 21 de agosto de 2020
lagoa de extremoz
há, portanto, em cada canto deste mundo
a invenção
nas porções de águas escuras e doces
tanto mais
aqui, por entre as ruínas da margem
dormem os olhos rutilantes
da píton-pagã
pobres incautos que buscam
suas bases no cálcio
porque nós, que aqui estamos,
por vós nunca esperamos
ansiamos, sim, pelas jangadas,
numa vigília ao som do sermão de costas,
que, juntas, torçam os ossos as cobras
tracem as rotas desse comboio,
rumo ao grande hotel fechado,
e sonharemos a liberdade
terça-feira, 4 de agosto de 2020
julho ii
sábado, 18 de julho de 2020
julho
segunda-feira, 22 de junho de 2020
junho
sábado, 20 de junho de 2020
e todos os meridianos foram deformados
pois há paredes infiltradas a qualquer hora
e a pensão dos vírus
tem este cheiro frio de cá
parece-me que os dias no trianon voltaram
aqueles de quando um bigode acumulava cinzas e delírios
quando também se lia bukowski até a madrugada achando o máximo
e espiava a rua vazia pela janela da cozinha
enquanto a primeira das mulheres murmurava seu rosário
reinventaram os detalhes:
a farmacinha do banheiro único
a clarabóia furada por onde escorre um fio de vento congelante
o tapete antiaderente
(os batons cintilantes, grampos dourados e a embalagem laranja de minâncora)
este cheiro frio
não é de cá:
até esta linhagem que inventa teu nome mais longo
a geografia é afetiva
não mais que as marcas do um rosto que se lembra
sem plenitude do ângulo, sem olfato
oxímetro quebrado
há, então, que se pichar as linhas,
afiando suas pontas
e expulsar este odor do ausente,
borrifando para cima
balas de um sul quente
domingo, 14 de junho de 2020
maio p. 2
maio
"Se vens a uma terra estranha
curva-te
se este lugar é esquisito
curva-te
se o dia é todo estranheza
submete-te — és infinitamente mais estranho."
abril
sábado, 13 de junho de 2020
sábado, 30 de maio de 2020
quando falo da estrada
e falo apenas disso
quando digo que acordo chorando com uma música
diga-me como me lê
quando passo distraída
dentro do caracol dos meus monstros
que sinto saudades
e revisito e me arrasto qual morador nativo
diga-me, então,
como não violar ferozmente a pele da minha boca
quarta-feira, 22 de abril de 2020
a origem do mundo
passa pela iniciação de uma pedra
atrito e granito escritos
no breu das cavernas
mata-borrão para quê?
a sobra é o que cria
e este espírito atravessa o excesso
encarnado de luz e calor,
retalhando, feito cortes de papel,
a língua das madalenas
por qual fenda escorre, então, a palavra?
decisão de minerva
eu: pedra e língua
marcada pelo fogo
da descoberta
segunda-feira, 30 de março de 2020
autobiografia
do que se forja em mente
o vermelho aveludado
e fazer parte da estrada faz parte da gente
para-choques de caminhão fazem parte da estrada
(a estrada faz parte da estrada)
ausento-me do piche e desta poesia
e sigo foragida
domingo, 16 de fevereiro de 2020
virgem
sobre todos que morrem e nascem
em vinte e quatro de agosto
abro o diário da mulher calada -
que não foi neste dia, mas quis bem antes de encarar as bocas gigantes, os planos violentos com rododendros, as traições, os filhos, a faculdade, os anos 50, o 'medo, feio & grande & lastimável', a técnica -
e existe o sono.
o sonho distante,
a genialidade,
o sono,
o metano,
o sono
[ah, sim:
Simone Weil
Getúlio Vargas
o cego Borges e o paulo Coelho]
mas a mulher caquética
acorda adoece pensa
no tempo-palavra enquanto me lembro:
*memórias 1
antes, o forno estralava pois a mãe costumava acendê-lo para afastar os gabirus
o canal do baldo não havia sido reformado
ratos gigantes eram caçados e mortos com vassouras e rodos, os sabres de meu pai
os bichos comiam nossa despensa e nossas portas, salvo a do último quarto, de metal, onde nos escondíamos
para além dos cabos de vassoura quebrados, o desafio era conceber que, antes do verbo,
roedores já estavam lá
*leituras
um dia, a mãe abriu o registro que libera a passagem daquilo que permite a combustão,
umedeceu panos e com eles bloqueou as frestas da porta do quarto de seus filhos
*memórias
tal qual a outra mãe fazia por conta dos ratos
entendo:
as mães têm suas artimanhas para que seus filhos
[não sejam acordados pelo gás inodoro
não sejam engolidos por um 'aborígene do lodo']
possam dormir em segurança